A Ilusão da Democracia Representativa (ou a Ditadura da Maioria Manipulada)

Saibam que eu sou contra as instituições Estado e Governo. Para ser coerente, portanto, eu não sou um defensor da Democracia. Ao menos não esta Democracia Representativa em que vivemos e que eu chamo de "Ditadura da Maioria", sendo que esta maioria pode ser facilmente manipulável. Não existe, em se tratando de Estado, uma Democracia Direta. Afinal de contas, ao se aglomerar em comunidades cada vez maiores o ser humano passou a não poder mais decidir de maneira direta todas as questões políticas e administrativas destas comunidades. Isto fez com que surgisse a Democracia Representativa.

Teoricamente, e ao contrário do que se imagina no senso comum, não são os representantes democraticamente eleitos que dão as ordens ao povo. Em uma escala hierárquica da Democracia, os representantes não estão acima do cidadão, e sim abaixo. O povo é o "chefe" de seus representantes - vereadores, prefeitos, deputados, governadores, senadores, e presidentes - e estes devem agir de acordo com o desejo do povo a quem representam.

Vejam bem: mesmo que os legisladores reacionários, ruralistas e evangélicos não te representem, eles representam uma quantidade considerável de pessoas. Tão considerável que estes foram democraticamente eleitos e sua popularidade cresce a cada aparição na mídia. Já pararam para pensar porquê? Então parem... e pensem.

O Sistema Democrático Representativo em que vivemos é, aparentemente, simples: Escolhemos nossos representantes em todos os níveis de governo através do voto universal e obrigatório e estes comprometem-se a legislar ou administrar em prol de nossos interesses. Entretanto, na prática, o sistema age um pouco diferente. Vou tentar explicar em alguns passos:

1. Os patrocinadores das campanhas eleitorais (empresas dos mais diversos portes e mercados mas, em geral, ligadas direta ou indiretamente à estrutura do Estado) escolhem os pré-candidatos que melhor representam seus interesses.
2. Em convenções, os partidos políticos escolhem os candidatos melhor "preparados". Isto é: os que mais votos podem conseguir (em geral, coincidentemente, são os melhor patrocinados). Existe também uma cota de gênero que, até onde sei, raramente é cumprida. Depois desta escolha, os já candidatos recebem ainda novos patrocinadores.
3. Inicia-se a campanha eleitoral propriamente dita. Mas, em inúmeros casos, esta campanha já ocorre muito antes de forma indireta, no exercício de mandatos eletivos, ocupando cargos públicos, ou obtendo destaque na mídia, o que influencia na escolha tanto dos patrocinadores quanto dos próprios partidos. Este é o momento dos candidatos apresentarem aos eleitores suas propostas, o que normalmente é irrelevante, pois se vê uma mesma plataforma em diferentes partidos e facções. Há os que defendem a educação, a saúde, a segurança, a infância, os comerciários, os industriários, etc. Há ainda os folclóricos, que se tornam fenômenos campeões de votos, e tantos outros para demonstrar a "diversidade" de nosso povo.
4. Entretanto, os candidatos melhor patrocinados obtêm (da maneira mais fácil: comprando) mais espaço e tornam-se mais atraentes em suas campanhas. Contratam os melhores profissionais para desenvolver seus planos de marketing (e não de governo). Os publicitários (e não estou criticando estes profissionais, pois estão sendo pagos para fazer seu trabalho) são peças cada vez mais importantes nas campanhas eleitorais. Vale tudo: de aulas de interpretação a cirurgias plásticas. Acessem este link e entendam do ponto de vista de um desses profissionais. E qual o resultado disso? Propostas mais condizentes com as necessidades dos eleitores ou uma "maquiagem" que lhes renderá mais votos? Ora, o que conquista votos é o plano de marketing e não o de governo! Neste outro link que DEVE ser lido com atenção, inclusive, está escrito literalmente: "O processo ideológico é o menos significativo do ponto de vista eleitoral (...) ideologia tem uma importância pequena na eleição (...)".
5. Os eleitores, por fim, acabam "escolhendo" os menos piores entre os candidatos disponíveis. E escolhem pela empatia, sem nem saber o quanto esta empatia é fabricada. São os que apresentam um melhor perfil em material de campanha, carros de som, comícios, almoços com a comunidade (boca-livre), etc. E estou sendo otimista ao dizer que não ocorre em profusão a compra direta de votos. Mas votar em alguém em troca de emprego, mesmo que temporário, é o que? Em troca de favores para a comunidade é o que? Aliás, votar em alguém em troca de qualquer vantagem pessoal não é "vender" o voto?
6. Estes representantes, escolhidos pelos cidadãos através do voto universal direto e obrigatório, acabam por tomar posse de seus cargos executivos e/ou legislativos jurando defender os interesses de seus eleitores (talvez graças às aulas de interpretação muitas vezes indicadas pelos "marketeiros"). Mas, na verdade, o que existe é um comprometimento com os interesses dos patrocinadores de suas campanhas, pois estes se farão necessários logo adiante.
7. E depois de 4 (ou 8) anos, o ciclo se repete. Alguns (poucos) personagens dão lugar a outros. Alguns (vários) personagens mudam de lado. Mas é sempre igual.

Pensem...

Pensem mais um pouco...

Quem financia a campanha do candidato reacionário? Os grandes e tradicionais empresários, os ruralistas, as entidades de extrema direita.
Quem financia a campanha do candidato evangélico? Os fiéis, direta ou indiretamente.

Não esqueçam dos Mensalões (do PT, do PSDB, do DEM, etc.).

E não pensem que isto é exclusividade de poucos. Toda estrutura existe para que assim seja. Da extrema direita à extrema esquerda, os partidos políticos fazem uso desta estrutura. E naquela que é considerada por alguns como a maior Democracia do mundo, os Estados Unidos, esta estrutura é apenas mais transparente, com os financiadores das campanhas declarando abertamente seus candidatos.

Utilizando, enfim, uma linha de raciocínio lógico, eu posso concluir que:
"Na Democracia Representativa vigente, o povo, através do voto universal, direto e obrigatório, escolhe, dentre os candidatos disponíveis, seus representantes. E esta escolha é feita de maneira subjetiva, baseada em uma empatia moldada através de estratégias muito bem elaborados por especialistas fazendo-se uso dos altos valores arrecadados para as campanhas. Deste modo, quem possui mais recursos pode contratar os melhores profissionais e elaborar um melhor Plano de Marketing, em detrimento de um Plano de Governo. Por outro lado, estes representantes democraticamente eleitos utilizam seus mandatos em prol de interesses próprios ou dos financiadores de suas campanhas, e não do povo por quem foram escolhidos."
VOCÊS NÃO SE SENTEM ENGANADOS TENDO CONSCIÊNCIA DISSO?

Por fim, aos pretensos defensores da Democracia eu deixo uma mensagem apaziguadora: Admito que a Democracia Representativa é o menos ruim dos sistemas disponíveis para administrar (governar) um Estado - a minha oposição é justamente ao Estado e ao Governo. No entanto, se todos os eleitores tivessem consciência do que eu acabei de escrever, as escolhas poderiam ser menos subjetivas.

E sim, eu sei da proposta de Financiamento Público de Campanhas. Mas é só uma proposta, por enquanto. E, honestamente, não acredito que seja a solução definitiva.



Leiam mais e, por favor, não se contentem somente com os links indicados abaixo. Façam suas próprias pesquisas e tirem suas próprias conclusões:

http://lelivros.us/book/download-as-mentiras-na-propaganda-e-na-publicidade-guy-durandin-em-epub-mobi-e-pdf/





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