Cartas na mesa

Eu sou uma pessoa de opiniões e convicções. Posso mudá-las a qualquer momento, desde que os argumentos sejam convincentes. Sem rótulos ou padrões, existem questões essenciais que me definem bem. Este é um resumo delas:

LIBERDADE: Esta é a questão fundamental, e recorrente em todas as demais. Sempre defendo, em qualquer situação, a liberdade individual e coletiva. Toda ideologia é permitida como tal, ainda que autoritária (como o fascismo), intolerante (como a homofobia ou o racismo), parcial (como o neoliberalismo), sectária (como os xiitas), sexista (como o machismo), etc. Não se pode restringir o pensamento ou o desejo de qualquer pessoa. Mas também não é possível impor sua vontade aos demais. Reconheço que quanto mais liberdade temos, menos seguros estamos - e neste caso sempre escolherei ser livre a estar plenamente seguro.
Nenhuma pessoa pode ser obrigada a nada, seja por outra(s) pessoa(s), seja por organizações.

RESPEITO/EMPATIA: Talvez seja o mais próximo de "regra máxima" que eu tenho para mim e tento difundir. Com meus filhos, estabelecemos uma definição simples de respeito que é o clássico "não fazer aos outros o que não se deseja a si".
Somos livres, mas nossa liberdade deve ser pautada por respeito e empatia com os demais.

POLÍTICA: Estado/Governo regulador são desnecessários. É possível que a auto-gestão  em relações sociais de qualquer porte, com ou sem lideranças, desde que o objetivo seja comum e não individual. O Estado/Governo é uma estrutura criada tendo a própria manutenção como finalidade principal. Anarquia é diferente de Desgoverno. Não existir um Estado/Governo é diferente de não existir ética, moral, ordem ou até regras e leis - mas estas devem ser livremente aceitas e não impostas hierarquicamente. Crimes, por exemplo, não deixam de ocorrer num passe de mágica, mas a grande maioria dos crimes ocorre em virtude do capital e da propriedade. Quantos crimes sobrariam se estes não existissem?
As pessoas são livres para se organizarem ideologicamente, desde que não subjuguem aquelas que não compartilham de sua ideologia, respeitando sua liberdade.

DEMOCRACIA: Uma das maiores falácias da humanidade. Cria-se a ilusão de que as minorias devem submeter-se às decisões da maioria. Na impossibilidade de uma decisão unânime, a democracia transforma-se, na prática do Estado/Governo, na ditadura ideológica da maioria. Isso sem falar em manipulação (institucional ou setorizada) da Opinião Pública. Em casos de disputa acirrada, como em uma eleição majoritária onde o vencedor tem, por exemplo, 51,5%, e o derrotado conta com 48,5% dos votos válidos, a chance de instabilidade é muito grande - que o diga a história recente.
O ideal seria a Democracia Direta, que se mostrou impraticável em grupos sociais muito numerosos. Entretanto, concentrações demográficas cada vez maiores, onde a coletividade tende a desaparecer, são consequência da estrutura capitalista.
As decisões das maiorias não podem ser impostas às minorias, pois todos indivíduos são livres para decidirem por e sobre si.

RELIGIÃO/FÉ: Toda e qualquer religião é mitologia, extinta ou não. O ser humano cria seu(s) deus(es) e não o contrário. Não há provas de que exista uma entidade (ou mais de uma, nas mitologias politeístas) que "administre" a realidade. A resposta mitológica ou religiosa sempre é a mais simples, definitiva e sem provas, por isso se chama "fé". Crer ou descrer não pode ser uma imposição, mas é algo culturalmente transmitido através das gerações.
As pessoas são livres para terem qualquer fé - inclusive nenhuma - e que não imponham sua fé (ou falta dela) aos demais.

AMOR/RELACIONAMENTO: Esta talvez seja a maior falácia de todas. O amor é, sim, supervalorizado. A necessidade de amar e ser amado incondicional e eternamente por um único alguém é a maior das utopias. Há diversas formas de afeto - e nem todas são acompanhadas de libido. E também o desejo sexual não está exclusivamente atrelado ao amor. Por fim, o casamento como instituição é uma forma de cercear as liberdades de ambos - é um documento onde cada indivíduo declara-se propriedade do outro na forma de uma escravidão voluntária. Todo relacionamento tem por base não o amor, mas o interesse mútuo em manter-se.
Todo indivíduo é livre para amar, desejar e se relacionar com qualquer outro indivíduo que compartilhe as mesmas intenções.

SEXUALIDADE: O trinômio Hetero/Bi/Homo é simplista demais. Biologicamente falando, e sempre generalizando, existem as características genéticas de cada gênero, os genótipos (esta cacofonia foi intencional): basicamente XX e XY, ou feminino e masculino. A manifestação física deste genótipo, em interação com o ambiente, cria o fenótipo, que não está necessariamente ligado ao gênero: assim podemos ter uma pessoa XX alta, outra XY baixa, etc.
Além disso, existem os esterótipos de gênero, que são exclusivamente culturais, e mudam conforme o tempo e o lugar. Mesmo com as idas e vindas da moda, o visual másculo ocidental de hoje é muito diferente daquele de 50 anos atrás, e será muito diferente dentro de 50 anos.
Junto a isto, existe a libido (que também é ao mesmo tempo natural e cultural). E a libido é muito subjetiva. Vou usar termos bem estereotipados para me fazer entender: Há homens magros que sentem atração por mulheres gordas. Há mulheres gordas que sentem atração por homens feminilizados. Há homens altos e fortes que sentem atração por homens baixos e gordos e também por mulheres masculinizadas. Há homens feminilizados que não sentem atração por homens. Há homens extremamente másculos que sentem prazer quando são sodomizados por mulheres extremamente femininas. Há, enfim, toda espécie de libido - para alguns até algumas práticas são inimagináveis ou repulsivas, mas existem. Portanto, não podemos ser apenas XX e/ou XY que "gosta" de XX e/ou XY.
Todo indivíduo é livre para sentir prazer com qualquer outro indivíduo que compartilhe dos mesmos desejos.

PESSIMISMO/REALISMO: Não vejo, em qualquer nível, motivos para existir esperança de melhora na humanidade. Nossa sociedade se desenvolveu sobre pilares inadequados que já parecem ter começado a ruir. Como já disse em diversas oportunidades: o ser humano e uma espécie parasitária, cuja extinção seria benéfica ao planeta. Caso não sejamos extintos por nossas próprias escolhas, espero que os sobreviventes sejam capazes de construir uma nova sociedade com uma base melhor e mais sólida.
Todo fim é um novo começo. Façamos melhor da próxima vez, se tivermos chance.

PRAGMATISMO/RESILIÊNCIA: Por fim, mesmo parecendo (e pensando como) um pária, eu escolhi viver em sociedade. Para tanto, eu preciso me adaptar e sobreviver da melhor maneira possível, mas me mantendo coerente com minhas ideias e ideais.
Não posso fazer o mundo de acordo com meus ideais, mas posso me adaptar a ele sem mudar a mim mesmo.

Em tempo: este texto (e, portanto, minha opinião a respeito das coisas) está em constante revisão, podendo ser alterado a qualquer momento sem aviso prévio ou posterior.

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